A Segunda Guerra Mundial foi, sem dúvida, o episódio histórico que teve a maior e mais ampla cobertura dos órgãos de informação: correspondentes de guerra, cinegrafistas, desenhistas, cronistas e escritores participaram e acompanharam todo o conflito, e tudo isso resultou num acervo incalculável de informações escritas e visuais.
Esse setor estava previsto na organização da FEB, só que a seleção e a escolha inicial de quem iriam acompanhar as tropas não coube ao Exército e sim ao DIP – Departamento de Imprensa e Propaganda – órgão do governo que controlava todos os meios de comunicação. Através dele o governo manipulava a opinião pública em favor de seus interesses políticos.
Os mais importantes jornais do país começaram a apresentar ao DIP os nomes daqueles que seriam os futuros correspondentes de guerra. Nem todos os jornais foram escolhidos, nem todos foram aceitos.
Em pé: da Esquerda p/ direita: Rubem Braga, do Diário Carioca; Frank Norall, da Coordenação de Assuntos Interamericanos; Thassilo Mitke, da Agência Nacional; henryBagley, da Associated Press; Raul Brandão, do Correio da Manhã, e Horácio Gusmão Coelho, fotografo da FEB. Abaixados: Allan Fisher (autor da foto), fotografo da Coordenação de Assuntos Interamericanos; Joel Silveira, dos Diários Associados; Egydio Squeff, de O Globo e Fernando Stamatoi, cineastra.
Um jovem jornalista que escrevia no Correio da Manhã e no futuro teria destacado papel na política do país, apesar de insistir no seu credenciamento, não conseguiu: o jornalista Carlos Lacerda.
Após o processo de escolha, evidentemente político, embarcaram para à Itália como correspondentes de guerra:Rubem Braga do Diário Carioca,Rui Brandão do Correio da Manhã,José Carlos Leite e Joel Silveira dos Diários Associados,Egídio Squeff de O Globo.
A Agência Nacional, órgão governamental, enviou:Thassilo Campos Mitke e Horácio Gusmão Sobrinho, como repórteres,Fernando Stamato Sílvio da Fonseca e Adalberto Cunha como cinegrafistas.
Outros membros da imprensa também estiveram na Itália:Carlos Alberto Dunshee de Abranches do Jornal do Brasil;Sílvia Bittencourt, a jornalista e cronista – esposa do diretor do Correio da Manhã -, que escreveu sob o pseudônimo de ‘Majoy’. Ela foi a única mulher brasileira que atuou como correspondente de guerra e sua permanência na Itália foi breve.
Para melhor compreensão do que foi a luta dos nossos pracinhas, deve-se preliminarmente afirmar que a carência de recursos humanos na frente italiana depois da transferência de experientes tropas para o sul da França e o imperativo de nossa permanência na frente de combate impôs-se operações difíceis, em terreno e clima ingratos, e, não raro, com mínimas possibilidades de êxito.
Sempre em ação guarnecendo setores acima das possibilidades de seus meios, jamais atacando com a Divisão inteira na potencialidade de seus 3 Regimentos de Infantaria, antes fazendo prodígios, conseguindo dispor de atacantes com o sacrifício e o risco dos defensores, o comando brasileiro não se poderiam permitir veleidades de brilho operacional, e teria de ser o que foi: bom senso antes, equilíbrio e poupança sempre, nunca bonapartismo e aventura.
O êxito de homens como Joel Silveira, Rubem Braga, Egydio Squeff, José Barreto Leite e Raul Brandão resultou, assim, tão-somente, de seu talento jornalístico e literário, de sua sensibilidade e de seu valor humano, e, acima de tudo, da total consagração à causa por que lutávamos. Em verdade, foram mais cronistas do que correspondentes de guerra.
Há que dizer-se, ainda, que o noticiário de guerra é sempre mais farto na guerra de movimento, quando há avanços significativos a assinalar, desbordamentos e cercos, quedas de cidades, grande número de prisioneiros, situações em que geralmente não é tão penosa a vida do combatente. Ao contrário, quando as frentes se estabilizam e não andam, diante de posições fortificadas, nos entreveros das patrulhas de combate, geralmente não há notícias a publicar nos jornais. E, no entanto, o dever bem cumprido no posto defensivo, que ninguém sequer veio a saber, ou o sacrifício do avião bombardeiro, atingido em silêncio, no fragor dos arrebentamentos de suas próprias bombas, pode ter feito pela causa comum o mesmo que o espetacular avanço de uma coluna blindada.
Daí o dizer-se que, a Campanha da Itália, sobre ser uma guerra de montanha, foi uma guerra de Sargentos, de Tenentes e de Capitães. E daí ter sido o soldado, o nosso querido e anônimo pracinha, o seu herói maior.
Também uma palavra preliminar sobre o direto acompanhamento das operações pela nossa imprensa, no trabalho de seus correspondentes de guerra. Para melhor compreender sua atuação é preciso ter em vista, além das limitações já assinaladas, que não tínhamos qualquer experiência nesse tipo de função, para a qual ninguém se prepara antecipadamente, e que, por outro lado, não havia, de parte de nossas tropas, a necessária capacidade para integrar, os correspondentes ao conjunto, corno se eles também fossem combatentes.
Matéria :Ecos da Segunda Guerra.