Quem nasceu até pelo menos a década de 1960, em Aracaju, cresceu sabendo que o litoral de Sergipe foi palco de alguns dos ataques alemães considerados como gota d'água para o Brasil entrar na Segunda Guerra Mundial. Entre 15 e 16 de agosto de 1942, cerca de duas semanas antes de o governo brasileiro declarar guerra aos países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão), três navios foram afundados pelos alemães a poucas milhas da praia de Atalaia, deixando mais de 500 mortos e, no dia seguinte, três ataques semelhantes ocorreram no vizinho litoral da Bahia.Cemitério dos Náufragos.
Embora muitos não saibam, a memória desses acontecimentos está gravada em Aracaju, no Cemitério dos Náufragos, provavelmente o único do Brasil a concentrar vítimas da Segunda Guerra. Hoje, pouco se sabe sobre esses fatos. Historiadores locais atribuem o desconhecimento à pouca relevância que é dada aos episódios da Segunda Guerra na história do Brasil, especialmente em livros didáticos onde o envolvimento brasileiro na guerra é apenas mencionado genericamente ou descrito como simbólico. Mesmo em Aracaju, as informações são escassas e contraditórias. Alguns registros atribuem a fundação do cemitério ao médico Carlos Moraes de Menezes, que o teria criado à beira mar especialmente para enterrar as vítimas dos bombardeios, mas há quem garanta que o local já existia de forma precária e foi rebatizado depois desses sepultamentos. Apenas uma informação parece unânime, o Cemitério dos Náufragos recebeu apenas as vítimas que não puderam ser identificadas em decorrência das mutilações. Os bombardeios ocorridos nas costas de Sergipe atingiram os navios Baependi, Annibal Benevolo e Araraquara, embarcações civis de transporte de carga e passageiros, que navegavam com luzes acesas sinalizando a neutralidade do Brasil até aquele momento. As duas primeiras pertenciam ao Loyd Brasileiro e, a última, ao Loyd Nacional. Na Bahia, os alemães atacaram os navios Itagiba e o Arerê e o veleiro Jacira. Outro fato ajuda a confundir quem busca informações sobre o monumento, o local oficialmente denominado, hoje, Cemitério dos Náufragos foi construído na década de 1980, à margem de uma rodovia homônima, com o propósito de substituir o primeiro. A proposta do deslocamento era desativar o antigo local que hoje se encontra em uma área residencial e turística na praia de Aruana, e criar um novo monumento para a memória dos náufragos. Os túmulos foram transferidos, mas, pelo menos por enquanto, o cemitério original continua a existir, de modo que em alguns mapas constam dois monumentos, o original Cemitério dos Náufragos, localizado na praia de Aruana, e o Cemitério Monumento dos Náufragos, localizado no povoado do Mosqueiro, um distrito de Aracaju.
![]() |
Cemitério Monumento dos Náufragos |
![]() |
Cemitério dos Náufragos
Cemitério dos Náufragos e Cemitério Monumento dos Náufragos - Praia de Aruana e Mosqueiro - Aracaju - Sergipe - Brasil.Blog : lugares de Memória Texto: Sylvia Leite "Os náufragos: uma história sangrenta no mar de Sergipe", de Luiz Antônio Barreto, publicado em 2012 no site Coisas de Socorro. O Resgate FEB |