Crônica publicada no Correio da Manhã, assinado apenas como “Veterano”, de janeiro de 1945. Esta publicação visa abranger o entendimento sobre questões que ainda geram dúvida em muitos brasileiros sobre o papel do soldado da FEB na Campanha da Itália. Não por acaso, a concepção errônea sobre o valor do nosso soldado na campanha da Itália se encerra quando o brasileiro é apontado com um especialista em patrulhas, mesmo depois das fracassadas investidas em Castelo, em novembro e dezembro de 1944. A contrário do que se possa imaginar, para uma soldado nascido e criado nos trópicos, muitos, inclusive, oriundos dos escaldantes sertões nordestino, combateram com destemor com pequenas frações sob temperaturas que chegavam a 20 graus abaixo de zero em algumas regiões no norte da Itália. O soldado brasileiro esteve na vanguarda do setor do Quinto Exército em toda a campanha da Itália, desde que chegou ao Teatro de Operações. Como diz o artigo abaixo: “O Soldado Brasileiro é lutador e Bravo na sua aparente frouxidão…”
Em uniforme de inverno, no mês de dezembro de 1944, patrulha da FEB se prepara para incursão às linhas alemãs |
O Infante Brasileiro na Campanha de Inverno
Vi a primeira nevada cair na noite de Natal e logo pensei nos soldados. Pensei em todos, mas principalmente no infante. O infante do Brasil! Muitos se têm admirado dele. Eu confesso que não me surpreendeu. O infante do Brasil das campanhas platinas e dos chacos do Paraguai era exatamente como é o infante que combate na Itália. O valor deste infante está imortalizado na História Militar do Brasil. O valor dele nós conhecemos de sobra no país, sempre que é chamado a lutar. Não foi aqui na Itália que ele se revelou. O brasileiro é o homem que ninguém dá nada por ele; ele mesmo não se dá muito valor. O brasileiro é assim – por natureza – lutador e bravo na sua aparente frouxidão. Saiu do Brasil com os ouvidos cheios. O Alemão é o primeiro soldado do mundo. Viu o alemão pela frente e topou. Viu a neve e topou. Topou de cara. Topa tudo! Defendendo-se do frio – 17 graus negativos – lançando mão de todos os recursos de sua imaginação. Perfeitamente equipado para a campanha de inverno, então fica um número. Com uma bota de “pé de pato” e, na cabeça um gorro astrakan, visto no reflexo da neve, parece até um explorador polar. A guerra não para porque as planícies e as montanhas e os rios se transformam em gelo. Há máquinas gigantescas para desimpedir os caminhos. A engenharia trabalha dia e noite sob tempestades de neve para que o infante possa passar. o seu irmão artilheiro está atento, para ajudar e apoiar. a guerra não pára, não pode parar por causa do frio. O alemão está lá em cima. Domina as estradas, impede a passagem – precisa ser desalojado – e será desalojado. . Mais cedo ou mais tarde terá ceder. O General Mascarenhas de Morais acaba de consagrar um louvor especial à infantaria em uma ordem do dia. “A arma”, diz ele, “do sacrifício, a arma em que a têmpera do guerreiro é posta à prova a todo momento, a arma que não admite no seu meio os tíbios, os desalentados, os incrédulo, a arma que exige a manifestação viril da nossa raça por uma causa que é a reabilitação do mundo escravizado”
Acrescenta o comandante da FEB: “sei que a brava gente de infantaria tem um chefe experimentado em ações de combate – General Zenóbio da Costa – cujo o lema é “para frente, custe o que custar!” Acompanhei as ações da Infantaria primeiramente no Vale do Serchio, e por último no seu atual setor , lançando-se impetuosamente, em condições desfavoráveis, num terreno hostil, contra alemães poderosamente defendidos e mascarados, no Monte Castelo. Claro que a FEB desempenha uma parte do esforço do Quinto Exército, e até agora nunca deixou de cumprir, dentro das possibilidades, as missões que lhe foram designadas. não tenho dúvida de que a Infantaria de SAMPAIO irá para a frente, custe o que custas!”.
Blog Francisco Miranda