" Edmundo Trench, membro da Companhia de Petrechos Pesados - CPPI-, que se encarregava do uso de metralhadoras pesadas, de calibre 50 e morteiros M1 de 81 milímetros. 1º Batalhão do 11º Regimento de Infantaria, sob o comando do Cel. de Infantaria Delmiro Pereira de Andrade, Força Expedicionária Brasileira, Itália, Segunda Guerra Mundial. Meu pai, Edmundo Trench, filho de José Trench e de dona Olympia de Sousa Nogueira Trench, nasceu em Avaré, estado de São Paulo, em 06 de fevereiro de 1919. Em 1941, aos 22 anos de idade, após alistamento para o serviço militar, foi convocado pelo Exército Brasileiro, e , em dezembro do mesmo ano, incorporado ao 3º Batalhão do 4º Regimento de Infantaria, 2ª Divisão do Exército,no Parque D.Pedro II,em São Paulo. Em julho de 1943, esse grupamento teve sua denominação alterada para 3º Batalhão de Caçadores.
Em setembro de 1944, foi incorporado à FEB e transferido para o depósito da mesma, na Vila Militar no Rio de Janeiro, ficando à disposição para o envio à Itália. Seu embarque ocorreu em 23 de novembro de 1944, no porto do Rio de Janeiro, no navio-transporte, o transatlântico USS General M. C. Meigs, comboiado por três belonaves (dois destroyers e um caça-minas ) e um dirigível, compondo o 4º escalão da FEB, que fazia parte da 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (1ªDIE), com um efetivo de 25.334 militares, sob o comando do general de divisão João Batista Mascarenhas de Moraes; Estado-maior da DIE, general de brigada Olímpio Falconière da Cunha; Comandante de artilharia, general de brigada Cordeiro de Farias, tão bem lembrados pelo meu pai. A 1ª DIE incorporava o 4º Corpo de Exército Americano, um dos braços do V Exército, sob o comando do General Mark Clark e seus subordinados, Willys Dale Crittenberger (Comandante do 4º Corpo de Exército Americano) e Lucian Truscott ( que em dezembro de 1944 assumiria o comando do V Exército Americano).
O desembarque ocorreu, depois de 14 dias de viagem,no mês de dezembro, no porto de Nápoles, de onde seguiu para o Vale do rio Reno (italiano, não o alemão), ao norte de Pistóia, na Cordilheira Apenina, em pleno inverno europeu, com temperaturas abaixo de 20 graus, passando por Livorno , Pisa e Silla, para treinamentos operacionais.
Nos quase 8 meses de guerra, a 1ª DIE - FEB- lutou em duas frentes nessa região: a primeira, a do rio Serchio, durante o outono de 1944; a segunda, da qual meu pai participou, muito mais ingrata, a do rio Reno. O ponto de partida foi o QG avançado de Porreta-Terme, a 30 km. da linha de frente.
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Certificado de Reservista |
No degelo no início de fevereiro de 45, o comando aliado retomou o projeto de alcançar Bolonha e as ricas cidades do vale do rio Pó, como Milão e Turim, o mais rápido possível. Para isso foi montada a Operação "Encore" (Retomada), uma ação conjunta de todas as forças disponíveis na península italiana para asfixiar as unidades nazi-fascistas. A FEB tinha novamente a incumbência de tomar o traumático Monte Castello, pois nas três tentativas do ano anterior, suas ações foram abortadas, como contava meu pai, por causa das nevascas que atolavam os tanques e deixavam intransponíveis as estradas, até para a infantaria.
Em 06 de fevereiro de 45, meu pai teve seu" batismo de fogo": era dia de seu aniversário, portanto, inesquecível, no Monte Castello, açoitado pelo frio e sob a constante artilharia das tropas alemãs, que dominavam o Monte della Torraccia,, Soprassossa e Belvedere. Os nazistas dificultavam a subida do brasileiros. Meu pai contava que foram decisivas para a conquista as atuações da FAB (Força Aérea Brasileira) com seus bombardeios, da infantaria dos regimentos, com o apoio de 10ª Divisão de Montanha Americana, que atuou lado a lado com os brasileiros. Mascarenhas de Moraes empregou todas as unidades que tinha à sua disposição para o ataque ao Castello. As armas mais pesadas da infantaria, a CPPI, onde meu pai atuava, agiam juntas para impedir uma represália alemã. Com um ataque simultâneo às várias elevações vizinhas, às 18 horas do dia 21 de fevereiro de 45, um pelotão brasileiro chegava ao topo do Monte Castello, na batalha que tivera a longa duração de três longos e terríveis meses, mas concluída em pouco mais de 12 horas nesse dia de fevereiro.
Com a chegada da primavera, abril de 45, a FEB iniciou a maior de todas as suas batalhas: a tomada de Montese, com um dos mais pesados bombardeios de toda a campanha brasileira. Ali a FEB experimentou a luta em área urbana. Meu pai contava que Montese foi arrasada pelos sucessivos bombardeios, tanto de aliados como de alemães.
Em um combate épico, os brasileiros venceram os nazistas, numa batalha em que ficaram feridos e mortos muitos de nossos combatentes.
Após a sangrenta batalha de Montese, gradativamente, a FEB começou a descer os Apeninos. A missão agora era impedir que os alemães cruzassem o rio Pó e pudessem se reorganizar nos Alpes. Mas as forças brasileiras conseguiram chegar a Parma, Colecchio e Fornovo, e no dia 30 de abril de 45, O general Otto Fretter Pico, comandante da 148ª Divisão Alemã, remanescentes de uma divisão italiana (a Divisão Bersaglieri) e as forças blindadas do Afrika Korps, os Panzer Grenadier, acompanhados de seu Estado- Maior, chegaram em rendição às linhas brasileiras, sendo recebidos pessoalmente pelo General Mascarenhas de Moraes.
Depois da rendição incondicional alemã no dia 02 de maio de 45, parte das tropas brasileiras ainda ficaram baseadas na Itália, segundo relatava meu pai, à espera de um possível envio para a frente de luta no Pacífico, onde a guerra ainda não havia terminado. Nesse período, de maio a setembro de 45, meu pai conheceu toda a tragédia de um país arrasado pela guerra, a miséria e a fome da população italiana. Conheceu particularmente os"partigiani", que pertenciam à Resistência italiana. Após a rendição do Japão, em 02 de sembro de 45, meu pai e as tropas brasileiras remanescentes na Itália retornaram à pátria, o que aconteceu em 17 de setembro de 45, trazidos pelo navio-transporte General Meigs.
Com a desmobilização da FEB, meu pai retornou à cidade natal, onde dedicou-se a cuidar das terras que lhe couberam como herança na Fazenda Água da Onça. Conheceu minha mãe, a professora Zilda Nogueira de Freitas Trench, com quem se casou em dezembro de 46. Mais tarde, trabalhou no entreposto da Cagesp, depois Ceagesp, em Avaré, onde se aposentou em cargo de chefia. Teve duas filhas, eu e minha irmã-gêmea Maria Olympia de Freitas Trench Sestari, três netas e três bisnetos. Com certeza, outros bisnetos ainda virão. Nunca dependeu de proventos ou aposentadoria do Exército. Faleceu em 13 de junho de 2011, aos 92 anos de idade. Recebeu , durante seu velório e sepultamento, homenagens militares do Tiro de Guerra da cidade. A bandeira nacional que cobriu seu esquife, guardo-a como única homenagem do país, que sempre esqueceu os "pracinhas".Ele foi agraciado com a Medalha de Campanha, pela participação nos combates no Teatro de Operações na Itália, Segunda Guerra Mundial."
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Carta endereçada a sua irmã Gizelda Trench |
Depoimento a "O Resgate FEB" de Maria Olívia de Freitas Trench Espíndola, filha de Edmundo Trench, em Avaré, 10 de novembro de 2013.